Procurando

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Caminhando contra o vento

Já caminhava por pouco mais de uma hora sem encontrar a rua. O mapa não ajudava em nada ou talvez ela não soubesse interpretar bem essas convenções cartográficas. Não se preocupava mais com as horas e muito menos percebera que estava com fome. Continuava a andar com os olhos saltando de uma placa a outra e os ouvidos atentos aos falantes. Depois de um tempo decidiu esquecer o compromisso – telefonaria amanhã, explicaria o ocorrido e marcaria o encontro para outro dia – e achou um tanto quanto providencial estar perdida.




Começou a olhar mais atentamente os prédios que se erguiam à sua volta e sentiu-se acolhida pelo frio gélido das paredes de pedra. O vento que bagunçava seus cabelos era o mesmo que soprava as notas calmas do início do outono em seus ouvidos. Lembrou-se do primeiro pensamento do dia, lembrou-se que não sabia o que iria acontecer e como decidira, subitamente, sair de casa e encontrar aquela rua. Pensou em ligar para alguém, por um momento quis companhia, mas sabia que devia fazer isso sozinha. Devia a ela mesma este momento consigo. Mesmo assim marcou o encontro. Porém, ao menos, faria o trajeto desacompanhada.




Não saberia dizer quando foi que então tudo pareceu girar dentro da sua cabeça. Sentiu umas pontadas nas têmporas e desacelerou o passo. Procurou um banco vazio e quando já estava sentada há algum tempo sentiu então o que talvez a fizera sair de casa esta manhã: seu coração batia forte, num ritmo único e original. Ela sentiu uma lágrima quente rolar pelo rosto e o gosto amargo da felicidade quando se encontrou com seu sorriso. Ali, sentada anonimamente, rodeada pelas árvores de folhas levemente amareladas pode respirar profundamente e sentir todo o peso dos caminhos que a conduziram até ali. Agora ela sabia que suportou o que há tempos julgava ser um grande fardo. Sentiu orgulho de si mesma, levantou-se e pôs-se a caminhar sem destino certo.

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